terça-feira, 8 de junho de 2010

UMA HISTÓRICA CONTADA COM IMAGENS

NOTAS DA CURADORIA DA EXPOSIÇÃO
A idéia de realizar a exposição com memoriais, nasce da organização e registro do acervo de trabalhos, projetos escritos do artista. Na intenção é compor um panorama da trajetória de 40 anos dedicados à investigação de múltiplas linguagens. Silvestre, sempre buscou conhecer e ir aos limites dos seus potenciais criativos, do conhecimento das matérias e dos materiais, do ser inventivo a partir destes.
Os memoriais apresentam uma linha do tempo que costura vivências artísticas através de textos e imagens, que contam das experimentações de múltiplas linguagens e como o artista se encontra na cerâmica e que agora redescobre seu trabalho através dos memoriais e do meu olhar. Nessa linguagem, a busca por saberes empíricos da antiga arte cerâmica, forjados durante horas e horas frente ao forno cerâmico, a o fazer cerâmico, nas mãos artista sempre se renova.
Tomei a iniciativa e argumentei a favor da idéia, pois até Silvestre, não achava importante que em vida fosse realizado este tipo de trabalho e de exposição, e que isto seria para depois da sua morte.
Faz três que acompanho a vida de Silvestre e admiradora do seu trabalho artístico e comunicadora que sou, sempre busquei compartilhar suas experiências, a vida e a arte presente nas obras. Ao comentar com algumas pessoas, jovens artistas, poetas, escritores, educadores e participantes da vida cultural da cidade, percebi que não conheciam o trabalho de Silvestre, um artista local tão expressivo. Notei que somente pessoas que viveram a Itajaí dos anos 60, 70, 80, conheciam o trabalho de Silvestre e conheciam sua dedicação a arte. Mesmo o mural escultórico “OS Carijós”, pensado, executado e doado à cidade pelo artista, que está exposto desde 1984 na Casa da Cultura, não tinha sua autoria conhecida pelos jovens. Além da memória fragmentada e frágil dos dias de hoje, a conhecida capacidade do povo brasileiro em esquecer a sua própria historia, as circunstâncias sociais e culturais, às demandas de estudos e do fazer cerâmico que afastaram o artista da convivência do meio artístico de Itajaí.
Silvestre passou longos períodos residindo em Buenos Aires onde compartilhou vida e arte com a artista Argentina Alicia Arena e desenvolveu cursos e participou da vida cultural desta europa latina que é aquela cidade. Com a artista cria o Grupo Piromaníacos, que participa de várias exposições e salões.
Depois da morte de Alicia, em 2004, vai para Tras las Sierra, montanhas na Província de Córdoba, onde desenvolveu vivências de cerâmica com crianças indígenas daquela região e conheceu saberes primitivos de fazer cerâmico com oleiros locais.
A Exposição “Memorial da trajetória artística de Silvestre João de Souza Júnior - 40 anos dedicados à Arte” objetiva oportunizar o conhecimento das vozes do artista através de sua própria memória, ecos da sua lembrança, o que é raro acontecer, pois em nossa cultura, o artista bom é o artista morto. Valorizo a vida e suas possibilidades, creio que vivemos tempos em que é urgente e necessário valorizar e celebrar a vida humana. O artista enquanto presença viva na sociedade, é marginal, pois todo artista de verdade tem seu lado incomodo, pois não há arte sem ruptura, sem transformação e sem a revelação ou a exposição do novo, como todos nós sabemos, o ser humano resiste ao desconhecido que a novidade da arte representa.
Considerei que era necessário dar a conhecer todo o percurso que este homem itajaiense empreendeu na contramão da sua formação familiar e educacional. E que na sua intensidade abdicou de valores e da vida convencional para viver a liberdade de ser o que é, e expressar, manifestar suas vivencias, a imaginação, a inteligência, a sensibilidade, a reflexão filosófica e a crítica social através de trabalhos em diversas linguagens artísticas, como a exposição irá revelar.
Tudo motivou a empreender o registro do acervo, a arquelogia e garimpo nas pastas, caixas, as conversas, os comentários decorridos da iniciativa. Confesso que foi árduo o processo de organização do acervo de desenhos, esboços e registros fotográficos dos trabalhos presentes no ateliê e digitalização das imagens, as histórias que elas evocam dos labirintos da memória do artista às lembranças impregnadas de passado, de vida e de arte. E posso assegurar que este foi o desafio do artista, o voltar ao passado, pois o artista Silvestre tem o olhar para o presente e para o futuro.
E como em todo processo de confronto ouve belos encontros com a história, com o ser em descoberta, com a poesia da vida desenhou os caminhos de aprendizados do artista na sua busca intensa de arte.
A exposição também irá disponibilizar poemas e textos da década de 70 e 80, memórias e histórias de alguns episódios que escrevi a partir das memórias de Silvestre, já que ele não se interessa atualmente pela arte da palavra.
Muitas pessoas foram contatadas na busca de fotografias e documentos sobre os anos que Silvestre dirigiu a Casa da Cultura e convivência artística, outras visitadas para registro fotográfico de trabalhos do artista adquiridos há mais de 20 ou 30 anos atrás. Todas as vivências imantam a exposição que pretende percorrer os vários espaços culturais de Itajaí e região.

por Cláudia Regina Telles